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Educação – aquela não encontramos nos livros

23/02/2012 Deixe um comentário

Cada um de nós viveu (ou vive, não sei a sua idade!) a adolescência de uma forma diferente, em contextos distintos, com muita ou pouca gente ao redor, com a opção de inúmeros estilos de vida e preferências musicais e assim por diante. Mas uma coisa que eu posso garantir (ok, quase) é que todos passaram por dois efeitos colaterais, independentemente da duração: tédio e insatisfação. Acertei?

Para a jornalista inglesa Lynn Barber foi assim. Ela compartilhou suas memórias no livro “Uma Outra Educação”, o qual originou o filme tema do post e que teve seu roteiro adaptado por nada mais, nada menos, do que Nick Hornby. Ambientado na Londres da década de 1960, conta a história de Jenny, 16 anos, muito inteligente e dedicada aos estudos e com uma trajetória já toda traçada pelo pai: ser estudante da Universidade de Oxford.

Apesar do futuro brilhante batendo à sua porta, Jenny queria mais da vida no presente. Carregava a típica insatisfação e tédio que sentimos quando sabemos que ainda há muito a ser descoberto e conhecido no mundo, mas não podemos fazê-lo por sermos jovens demais e termos “responsabilidades”. Insatisfação e tédio, esses, que foram devidamente esquecidos quando conheceu David (Peter Sarsgaard), um cara mais velho e experiente disposto a mostrar-lhe as coisas boas (e más) que a vida poderia oferecer.

Não é preciso contar mais da história (foram os 15 minutos iniciais, eu juro) pra imaginar onde ela vai parar, não é? Ela é de fato previsível e bem pouco inédita. Apesar disso, os demais elementos do filme compensam essa fraqueza: os diálogos são perspicazes, a atmosfera dos anos 60 é das mais charmosas que este mundo já viu e as atuações são excelentes. Prova disso são as três indicações ao Oscar que levou, nas categorias de melhor filme, melhor atriz (Carey Mulligan, a Jenny) e melhor roteiro adaptado – isto é, se ainda podemos dar algum crédito às indicações do Oscar dos últimos tempos, é em exemplos como este.

Educação é um filme delicado e divertido. Muitos o acusaram de moralista, mas acredito que, mais do que querer ensinar lições ou “certos” e “errados”, o filme quer contar uma história que aconteceu há 50 anos. Apenas isso. Houve muita polêmica e questionamento do seu mérito, e confesso que isso me dá certa preguiça: o importante mesmo é desfrutá-lo e rememorar (ou se identificar  com) o processo de autodescoberta e alargamento de horizontes que invariavelmente vem junto com a adolescência – acompanhados do tédio e da insatisfação. É uma fase importante e bonita (cof) da vida, independentemente do desfecho que escolhemos para ela.

Ficha técnica
Título: An Education (Educação)
Diretor: Lone Scherfig
Ano: 2009
Gênero: Drama
Duração: 100 minutos

The Darwin Awards

02/10/2011 Deixe um comentário

Se você tem uma certa simpatia por humor negro com uma pitadinha de nada de sadismo e ainda não conhece o Darwin Awards, este post é pra você. Se você já conhece o Darwin Awards, mas não sabia que ele se tornou um filme, este post também é dedicado a você. E se você já sabe de tudo isso, bem… o post também é pra você, porque sempre vale a pena escrever/ler sobre esse assunto, né?

Comecemos pelo básico. O Darwin Awards é uma homenagem oferecida às histórias mais absurdas (e estúpidas) de mortes e esterilizações já acontecidas. O nome vem do Charles Darwin, o pai barbudo da teoria da evolução: segundo os criadores do prêmio, essas pessoas homenageadas acabaram contribuindo com a seleção natural por deixarem de disseminar os seus genes burricos por aí. Tá meio confuso isso, quer um exemplo de história? Lembra do padre baloeiro? Se não lembra, olha ele aqui. Pois então, em 2008 ele ganhou o Darwin Awards. Não dá todo um orgulho patriota?

Essas histórias tragicômicas foram reunidas ao longo dos anos por vários sites, sendo o homônimo o mais famoso. A dona dele, Wendy Northcutt, as compila desde 1993 e há alguns anos contribuiu com o roteiro de um filme. O tema? Ah, você já sabe.

Escrito e dirigido por Finn Taylor e lançado independentemente em 2006, o filme foca sua história no detetive forense Michael Burrows (Joseph Fiennes), que tem a carreira arruinada pela sua hematofobia. Obcecado por análise de perfis e Darwin Awards que era, tenta um emprego em uma companhia de seguros e sai pelo país na companhia de Siri Taylor (Winona Rider) para desvendar os casos mais incomuns. E, claro, os “casos incomuns” são casos que de fato apareceram no Darwin Awards real.

Logo no primeiro caso há a participação de Jamie Hyneman e Adam Savage, os caras do MythBusters [curiosidade off topic porque sou entusiasta: provavelmente por mais que uma coincidência, a história de que participam no filme é a mesma que apareceu no piloto do programa, 8 anos atrás – a qual, por sinal, foi considerada impossível e acabou detonando o mito], além da passagem do Metallica e do Lawrence Ferlinghetti (poeta da Geração Beat). Não bastasse isso, os pequenos papéis ficaram nas mãos de atores como David Arquette, Ty Burrel (o Phil Dunphy de Modern Family), Josh Charles, Kevin Dunn, Lukas Haas, Juliette Lewis, Chris Penn e Tom Hollander.

A história central do filme, de Burrows e Taylor, não chega a envolver, mas faz o seu papel de conectar as histórias-Darwin-Awards e incorporar outras menores. Como o principal chamariz do filme são elas, um eixo central fraco não é algo que chega a incomodar ou comprometer. Na verdade, é tão provável que você fique com uma cara assim enquanto assiste aos casos bizarros (eu fiquei!) que o restante será mero coadjuvante. E também é válido apontar que a trilha sonora é bastante agradável e mistureba: vai de Billy Joel a Metallica (claro), passando por Judas Priest, Wilco, Spoon e Stevie Wonder.

Em resumo: quer dar férias ao cérebro sem fazer algo estúpido? The Darwin Awards é uma boa pedida. Relaxe, diminua o volume das suas exigências cinematográficas e divirta-se com a estupidez alheia – afinal, ela pode ser bem maior do que a gente acredita…

AVISO: HÁ MUITOS SPOILERS no trailer. Veja apenas se não se incomodar com isso.

Ficha técnica
Título: The Darwin Awards (? em português)
Diretor: Finn Taylor
Ano: 2006
Gênero: Comédia
Duração: 94 minutos

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A Mentira: humor refinado e referências bem encaixadas

21/07/2011 1 comentário

Então foi assim: eu tenho um Tumblr. E algum tempo atrás começaram a pipocar stills da Emma Stone por lá, como este, mas eu não sabia do que se tratava. Conforme surgiam e surgiam aumentava meu interesse, até que resolvi sair do campo da curiosidade e pesquisar. Era a comédia A mentira. Corri pra ver e não me arrependi nem um pouco, mesmo com a minha desconfiança com comédias.

A mentira conta a história de Olive, uma menina comum – tão comum que se considera invisível – na época de colégio. Até que a sua invisibilidade dá lugar a fama quando ouvem no banheiro uma mentirinha contada para a sua melhor amiga: que havia perdido a virgindade em um encontro. Em pouco tempo todos do colégio são informados do fato e a mentira que deu fama a Olive acaba levando a mais e mais e mais outras mentiras, até chegarem a um ponto crítico.

O diferencial desse filme são basicamente dois pontos: o humor mais refinado, sarcástico, rápido, e a quantidade enorme de referências bacanas – literárias, musicais, cinematográficas. Apesar da história não ser exatamente extraordinária, o filme te prende e diverte sem grandes esforços, algo ótimo para aqueles dias em que você só precisa relaxar um pouco – dá até pra esquecer o detalhe de que uma pessoa com a beleza da Emma Stone dificilmente seja despercebida nesse mundo, talvez a maior falha da história. Além disso, há participações de gente do mundo das séries, como Lisa Kudrow (a eterna Phoebe de Friends), Penn Badgley (o Dan Humphrey de Gossip Girl), Dan Byrd (o Travis Cobb de Cougar Town) e Amanda Bynes (a Holly Tyler de Coisas que Odeio em Você). Sem contar que a Emma Stone foi indicada ao Globo de Ouro pela atuação e a trilha sonora é uma saladona que vai de Pussycat Dolls a Death Cab for Cutie.

Ufa, já tá bom né? Mas se ainda não consegui te convencer, ou se quiser saber um pouquinho mais da história, aí vai o trailer:

Ficha técnica
Título: A Mentira (Easy A)
Diretor: Will Gluck
Ano: 2010
Gênero: Comédia
Duração: 92 minutos

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Amor? – De onde vem a dúvida do filme?

04/07/2011 Deixe um comentário

Agora que estamos a uma distância segura do dia dos namorados e suas promessas de amor eterno e perfeito, temos uma oportunidade propícia para falar do Amor?. Sim, amor, mas com uma interrogação no final. De onde vem a dúvida nesse filme?

Amor? é um documentário brasileiro dirigido por João Jardim e lançado em abril deste ano. Fruto de uma pesquisa de campo que durou um ano e coletou cerca de 60 depoimentos, o documentário reúne 8 histórias verídicas e interpretadas/narradas por grandes atores como Lilia Cabral, Du Moscovis, Ângelo Antonio e Julia Lemmertz. Histórias essas às vezes bastante inquietantes e que justificam o ponto de interrogação do título.

O ponto central de todos os depoimentos é simples: histórias de amores marcados por violência, seja da verbal, física ou moral. Quem nunca viveu ou acompanhou um relacionamento assim? Acredito que ninguém esteja imune, e essa é a parte que mais nos causa incômodo ao nos inteirarmos das histórias alheias: a possibilidade.

Sendo assim, você pode estar pensando que Amor? é um filme para os que tem estômago forte ou que gostam de muito drama, mas não é bem assim. As histórias dos outros servem para pensarmos nas nossas, para refletirmos a respeito dos limites que separam um relacionamento saudável de um nocivo, além dos nossos próprios limites na vida. Por exemplo: se você estivesse extremamente apaixonado(a) pelo seu par, aceitaria que ele te batesse por algum motivo? Tem certeza? Que tipo de violência você já sofreu? Por quê? E assim por diante. Os questionamentos são inúmeros.

Claro, já deu pra perceber que o documentário nunca vai passar na Sessão da Tarde, e é preciso estar com espírito para assisti-lo. Se você se desconcentrar por 10 segundos perde o fio da meada e a história fica sem sentido, mas tudo é contado com tanta naturalidade que é difícil desgrudar o olho da tela mesmo nos depoimentos menos interessantes. Vale a pena. Tanto para quem simplesmente gosta de ouvir histórias (bem) reais quanto para quem tenta tirar algum significado do que ouve. Na melhor das hipóteses, Amor? vai te fazer sentir bem por ter a vida que leva. Foi o que aconteceu comigo.

Ficha técnica
Título: Amor?
Diretor: João Jardim
Ano: 2011
Gênero: Documentário
Duração: 90 minutos

The September Issue

07/06/2011 Deixe um comentário

O meu (vago) interesse pelo mundo da moda é bem recente, e aparentemente o do cinema também. Nos últimos anos foram lançados filmes e documentários a respeito de nomes como Coco Chanel, Valentino, Lagerfeld e, claro, o famoso O Diabo Veste Prada, inspirado na experiência de Lauren Weisberger na indústria da moda ao lado de Anna Wintour. Espera aí, mas quem diabos é a diaba Anna Wintour? É a editora-chefe da Vogue estadunidense há mais de 20 anos e a pessoa mais influente e poderosa do mundo da moda. “Só” isso. Uma mulher que não poderia ser deixada de lado nessa leva de filmes, portanto.

The September Issue é um documentário, como o próprio nome já sugere, a respeito da edição histórica de setembro de 2007 da Vogue – a maior edição de todos os tempos da revista. Logo na primeira cena temos uma declaração interessante da sra. Wintour, saca só:

I think what I often see it that people are frightened about fashion. Because it scares them or make them feel insecure they just put it down. On the whole people that may say, the meany things about our world I think that’s usually because they feel, in some ways, excluded or, you know, not a part of ‘the cool group’ so as a result they just mock it. Just because you like to put on a beautiful Carolina Herrera dress or a pair of J Brand blue jeans instead of something basic from K-Mart it doesn’t mean that you’re a dumb person. There is something about fashion that can make people really nervous.

Ou um resumo no bom e velho português: as pessoas se sentem assustadas e/ou inseguras com a moda, então optam por deixá-la de lado. As coisas ruins e piadas que dizem a respeito desse mundo são devidas ao sentimento de exclusão que desperta nas pessoas. Mas que, para ela, o fato de você gostar de usar roupas de grife em vez de populares não quer dizer que você seja uma pessoa estúpida.

No documentário acompanhamos todo o processo de criação e edição da revista, o qual é bem menos glamuroso do que podemos imaginar. O escritório da Vogue, por exemplo, não é luxuoso: seus corredores ficam apinhados de roupas e acessórios e seus empregados não são lindos, maravilhosos e extremamente arrumados como nossa fantasia poderia apontar.

O que mais chama a atenção, de fato, são as pessoas. Além da lendária Anna, com sua fama de má e fria (um tanto quanto exagerada, eu diria), há Grace Coddington que, com sua personalidade e coragem para enfrentar a editora, rouba a cena. Sem contar os grandes estilistas e fotógrafos que dão o ar de sua graça, como Oscar de La Renta, Vera Wang, Mario Testino, Jean-Paul Gaultier, John Galliano e Karl Lagerfeld. É curioso ver essas pessoas notórias no dia-a-dia de trabalho, sem flashes pipocando e superproduções.

Também é curioso perceber o poder que uma única pessoa, Anna, tem em suas mãos. Em cinco minutos ela decide quais serão as peças-tendência que deverão receber atenção e, por conseqüência, influencia toda a indústria da moda. Curioso e um pouco assustador. Ao mesmo tempo, também nos é mostrado um pedacinho da sua vida particular, mais “humana”, como a relação com sua bela filha, Bee Shaffer – que ironicamente não quer seguir os passos da mãe.

Em suma, o documentário é bem dirigido e interessante, até mesmo para quem não tem lá muito interesse em moda. Pessoalmente, achei bacana acompanhar um pouco da rotina de um mundo tão distante do meu; é bom ampliar um pouquinho seus horizontes e ter novas perspectivas a respeito das coisas, não acham? Por mais que você possa acabar pensando “nossa, quanta futilidade”. Ou não ;)

 

Ficha Técnica
Título: The September Issue
Diretor: R.J.Cutler
Ano: 2009
Gênero: Documentário
Duração: 90 minutos

Quinta-feira Violenta

20/05/2011 Deixe um comentário

A década de 90 contou com uma safra muito prolífica de filmes violentos. Só do Tarantino temos dois clássicos (Cães de Aluguel, 1992, e Pulp Fiction, 1995), além dos excelentes Os Bons Companheiros (Scorsese, 1990), Fargo (irmãos Cohen, 1996), Clube da Luta (David Fincher, 1999), Los Angeles – Cidade Proibida (Curtis Hanson, 1997), A Outra História Americana (Tony Kaye, 1998) e assim por diante. Quinta-feira Violenta (Spike Woods, 1998) também faz parte desse rol, e, apesar de não ter obtido tanto sucesso ou notoriedade quanto os outros, é um longa que merece ser visto.

No filme temos a história de Casey (Thomas Jane), um arquiteto que vive em Houston com sua esposa Christine (Paula Marshall). O casal é uma tradução do american dream: vida estável e confortável no subúrbio, com empregos decentes e o desejo de constituir família – no caso, adotando uma criança. Entretanto, toda a aura de marasmo da decoração kitsch é interrompida pela visita de Nick (Aaron Eckhart), antigo amigo e ex-parceiro de Casey no tráfico de drogas.

O motivo da visita? Simples, Nick iria se casar e partir para a França. Uma vez que não queria mais nada do seu passado negro, Casey reluta, mas acaba aceitando receber o amigo. Logo se descobre que a visita não tinha um pretexto lá muito nobre: Nick havia trazido consigo uma mala recheada de pó que passarinho não cheira, a qual era cobiçada por várias pessoas. E a partir daí temos um desfile de personagens e situações pitorescas ao longo de um dia, além de muita, muita, violência (claro).

Nada muito chocante ou de revirar o estômago, é bom dizer. Tudo é recheado com bastante humor negro, ironias e diálogos interessantes, os quais lembram bastante o estilo de Pulp Fiction e Cães de Aluguel. Quinta-feira Violenta não tem um clima tão cool, diálogos tão memoráveis ou cenas tão antológicas quanto seus “primos ricos”, mas é um filme que realmente diverte e entretém. Foi um ótimo achado – e que, pra mim, deveria ser mais conhecido pelos apreciadores do gênero.

Mas se você ainda estiver em dúvida (ou então curioso), dá uma olhadinha na cena de abertura do filme. Vai dizer que não é muito boa?

Ficha Técnica
Título: Quinta-feira Violenta (Thursday)
Diretor: Skip Woods
Ano: 1998
Gênero: Ação, Policial
Duração: 85 minutos

Curiosidade: Mickey Rourke fez uma ponta no filme, numa época em que havia abandonado o boxe e sua carreira artística estava em baixa.

Máquina de Pinball

02/05/2011 1 comentário

Clarah Averbuck recentemente ficou conhecida pelo grande público por sua participação no programa Troca de Família – e por depois anunciar que nessa ocasião seu agora ex-marido, baixista do Vanguart, a traiu com a outra participante. Entretanto, participar de um reality show foi apenas mais uma realização dessa gaúcha de temperamento difícil. Anos antes ela era conhecida na blogosfera por seus textos espalhados em revistas digitais e em seus vários blogs. Filha do músico Hique Gomez (Tangos e Tragédias), também é cantora e participa de uma banda. E em 2001 escreveu sua primeira novela e assunto deste post: Máquina de Pinball.

O livro, curto, trata de alguns meses da vida de Camila Chirivino – “22 anos, largou a faculdade de Jornalismo e de Letras pela metade, gosta de gatos, chocolate, vodca, homens magros e sem pêlos, olhos escuros, jazz e rock”. Compartilhando o apartamento minúsculo com um amigo em São Paulo depois de abandonar Porto Alegre, Camila narra as noitadas, divagações, festas, paixões e viagens que viveu – como uma ida a Londres para ver os Strokes, mesmo quase sem dinheiro.

A parte interessante do livro é a quantidade de referências literárias e musicais que traz. A cada início de capítulo há um excerto de música que dá o tom certo à leitura, por exemplo. Além disso, a protagonista se diz fã de Fante, Bukowski, dentre tantos outros. Pessoalmente, sou fã também e isso me desperta uma grande simpatia.

Entretanto, essas referências estão tão marcadas ao longo do livro que paira uma dúvida: é inspiração ou cópia de estilo? Para quem teve oportunidade de ler Kerouac, Fante, Bukowski, Hornby, etc, os trechos em que seus temas e estilos aparecem saltam aos olhos. E, convenhamos, eles são bastante diferentes entre si, o que faz com que o ritmo do livro seja bastante irregular.

Com boa vontade podemos relacionar essa inconstância à necessidade de Camila se encontrar consigo mesma, mas a verdade é que isso incomoda um pouco. Apesar de algumas sacadas ótimas e observações agudas, Averbuck construiu uma personagem antipática. Mesmo se identificando com ela em algumas passagens, outras são tão chatas (desculpem, não achei adjetivo melhor) que chegam a irritar. Um exemplo? Aqui vai:

É só ser completamente normal. Gente normal me dá nos nervos. O dito normal é a coisa mais estranha que posso imaginar. É estranho usar drogas pra se divertir? É estranho dormir até não ter sono? É estranho não querer se encaixar em padrões inventados por meia dúzia de manés no topo da cadeia alimentar? Acho que não.

Eu juro que escrevi algo parecido no meu diário de 2000, quando tinha 15, 16 anos. Quinze, dezesseis anos. É terrivelmente juvenil, não acham? Percebam que não discordo da ideia que ela passa, mas a forma com que isso foi colocado apenas me remete a uma rebeldia imatura, daquelas que causam bocejos. Uma questão de gosto pessoal, talvez.

Em suma, Máquina de Pinball é um livro regular, escrito de uma maneira que beira o desleixo em alguns momentos. Poderia ter saído muito bom, mas… não deu. Entretanto, Clarah Averbuck lançou mais dois outros livros depois desse – Das coisas esquecidas atrás da estante (2003) e Vida de gato (2004) – e creio que daria uma chance a eles. Quem sabe?

Ficha Técnica
Título: Máquina de Pinball
Autor: Clarah Averbuck
Ano: 2001
Editora: Conrad
Número de Páginas: 88

Curiosidade
O livro foi adaptado para o teatro em 2003 por Antônio Abujamra e Alan Castelo – e Averbuck não ficou satisfeita com o resultado final. Além disso, seus livros também inspiraram Murilo Salles a realizar o filme “Nome Próprio”, protagonizado por Leandra Leal em 2007. Você pode ver teasers, trailer e demais informações a respeito aqui.

Minhas Mães e Meu Pai: para seus ouvidos

26/04/2011 Deixe um comentário

Calma, calma, eu sei que já escrevemos uma resenha sobre o Minhas Mães e Meu Pai, não estou louca nem cover da Kátia Cega. O que gostaria de destacar aqui é a trilha sonora desse filme; ela me surpreendeu bastante, e de maneira bem positiva. Tanto que achei que valia um post apenas sobre isso.

Pra começar, ela é mais extensa que o habitual, com 17 faixas. E de qualidade, que vão de musiconas da década de 70 a bandas indies recentes que causaram frisson na ceninha (e tem até brasileira). Bem raro encontrar um filme com uma trilha sonora nesses moldes ultimamente, hein. Eu gostei.

Mas chega de lenga-lenga, né? Bora ouvir!

(Se não estiver afim de ouvir uma por uma, há um preview da soundtrack aqui.)

1. MGMT – The Youth
Gênero: eletrônica, indie, indie pop
Detalhe: essa música tem um clipe bem bizarro
Origem: EUA

2. David Bowie – Black Country Rock 
Gênero: rock clássico, glam, 70s [essa música]
Origem: Inglaterra

3. Tame Impala – Sundown Syndrome
Gênero: indie, eletrônica, trip-hop
Origem: Austrália

4. Fever Ray – When I Grow Up
Gênero: eletrônica
Detalhe: projeto solo da vocalista do The Knife
Origem: Suécia

5. Leon Russell – Out In The Woods
Gênero: rock clássico, 70s [essa música]
Origem: EUA

6. Deerhoof – Milk Man
Gênero: indie, experimental, noise rock
Origem: EUA

7. X – The New World
Gênero: punk, 80s
Origem: USA

8. Uh Huh Her – Same High
Gênero: eletropop, indie
Origem: USA

9. David Bowie – Win
Gênero: rock clássico, glam, 70s [essa música]
Origem: Inglaterra

10. Quadron – Slippin’
Gênero: eletropop, indie
Origem: Dinamarca

11. Joni Mitchell – All I Want
Gênero: jazz, folk, 70s [essa música]
Origem: Canadá

12. CSS – Knife
Gênero: eletrônica, indie
Detalhe: essa música é cover de Grizzly Bear
Origem: Brasil

13. Ge-ology ft. Yukimi Nagano – Blues Alley
Gênero: jazz, eletrônica
Origem: Suécia

14. Gábor Szabó – Galatea’s Guitar
Gênero: jazz, guitarrista, música tradicional húngara
Origem: Hungria

15. Betty Wright – Good Lovin’
Gênero: soul, R&B
Origem: EUA

16. Deerhoof – Blue Cash
Gênero: indie, experimental
Origem: EUA

17. Little Dragon – Fortune
Gênero: trip-hop, banda da Yukimi Nagano
Origem: Suécia

Também temos mais duas músicas que não estão na soundtrack oficial, mas que tocam por lá:

Vampire Weekend – Cousins
Gênero: indie pop
Detalhe: vale a pena ver o clipe!
Origem: EUA

Tom Hirschmann – Tailgating
Nenhuma informação encontrada sobre o compositor. Alguém conhece ?


E aí, curtiram?

Orgulho e Preconceito, por Jane Austen e Joe Wright

06/04/2011 Deixe um comentário

Jane Austen. Você já deve ter ouvido o nome dessa escritora que nasceu em 1775, na Inglaterra.  Eu também já tinha ouvido falar, e normalmente a associava a dois conceitos: coisa de mulherzinha e clássicos da literatura. Foi apenas quando conheci de fato uma das suas obras (Razão e Sentimento) que a primeira associação desapareceu. A mulher foi porreta mesmo e há grandes razões para que seus livros sejam considerados clássicos, especialmente se considerarmos o segundo deles, Orgulho e Preconceito.

Jane Austen escreveu romances de época, retratando em especial a sociedade rural inglesa e o que acontecia no interior das suas residências. Falando dessa forma parece um tédio sem fim, eu sei. A grande graça, porém, era a forma como ela o fazia. O foco não estava nas paisagens ou descrições, mas nas grandes caracterizações que construía, assim como no sarcasmo e inteligência aguda com que percebia as pessoas e costumes da época – tudo isso escrito com simplicidade e fluidez. Mesmo que suas obras sejam lidas daqui a 300 anos elas serão compreendidas e, mais do que isso, haverá uma identificação inevitável com pelo menos um dos personagens. Os costumes podem mudar, a sociedade e cultura seguem sua evolução, mas as paixões humanas… continuam basicamente as mesmas.

Em Orgulho e Preconceito temos a história da família Bennet como foco central: cinco filhas em idade para casar e com pais de pouco “pedigree” e muitos erros na sua criação. A história é contada pela perspectiva da segunda filha mais velha, Elizabeth Bennet, e começa com a chegada de novos vizinhos aristocratas – o sr. Bingley, suas irmãs e seu amigo, o sr. Darcy. A partir daí começam os bailes, flertes, fofocas, julgamentos, amores, preconceitos, maquinações, tolices… Não é preciso ter vivido no final do século XVIII para passar pelo mesmo, não é? Basta pensar no seu último final de semana.

O grande mérito da Jane Austen é não ter transformado tudo isso em histórias de amor típicas, piegas ou melosas. Os personagens são incríveis, os diálogos são sagazes, as tramas bem costuradas. É uma leitura extremamente prazerosa, em especial para quem gosta de observar a natureza humana.

Talvez seja essa a principal diferença da adaptação dessa obra para o cinema, de 2005. A história foi modificada em certa medida – o que é natural, já que a linguagem e o tempo são diferentes nas telas –, mas a parte mais significativa foi a modificação do clima da história. Tudo ficou mais hollywoodiano e apelativo, com declarações de amor na chuva que não existem no livro, por exemplo. Não acredito que chegue a ser um demérito, mas soa estranho para quem teve contato com a versão escrita.

Para que o diretor tivesse sucesso era preciso conseguir duas coisas acima da média: atores (para demonstrar todas as sutilezas dos personagens) e locações (para demonstrar toda a opulência e contrastes). E conseguiu. Keira Knightley, Matthew Macfadyen, Donald Sutherland e Judi Dench estavam muito apropriados e convincentes em seus papéis, apenas não gostei muito da escolha do Tom Hollander para interpretar o sr. Collins. E as locações, como era de se esperar, eram belíssimas – vale a pena ver os extras do DVD para ter mais detalhes.

Sou meio suspeita para falar desse livro e desse filme, é difícil ser imparcial com os seus favoritos – e olha que eu acabei de terminar o livro. De qualquer forma, dê uma chance. Você pode não se apaixonar como eu me apaixonei, mas certamente não será tempo desperdiçado.

Ficha Técnica

Filme

Título: Orgulho e Preconceito (Pride & Prejudice)
Diretor: Joe Wright
Ano: 2005
Gênero: Romance
Duração: 127 minutos

Livro

Título: Orgulho e Preconceito (Pride & Prejudice)
Autora: Jane Austen
Editora: LP&M pocket
Ano: 2010
Páginas: 400

Elsa & Fred – Um Amor de Paixão

23/03/2011 Deixe um comentário

Numa situação cotidiana qualquer, um homem e uma mulher de personalidades completamente opostas se conhecem. O tempo passa, a convivência aumenta, surge o amor e suas vidas são mudadas. Com certeza você já viu essa história antes. Eu também. Assim de pronto me lembro de três filmes com essa fórmula básica: Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004), Ensina-me a Viver (Harold & Maude, 1972) e Nunca Te Vi, Sempre Te Amei (84 Charing Cross Road, 1987). Todos são ótimos e altamente recomendáveis. E Elsa & Fred – Um Amor de Paixão é mais um dessa lista.

O filme é de 2005 e ambientado em Madrid, numa produção espanhola e argentina. O mote eu já contei praticamente inteiro, mas isso não prejudica em nada o encanto do filme. O que conta realmente são os detalhes da história e os protagonistas, um com 78 anos de idade, outro com 77. Fred é hipocondríaco (“cagão”, como definiu Elsa em um dos melhores diálogos do filme), circunspecto, apagado e recentemente viúvo, enquanto Elsa é inconseqüente, intensa, jovial, aventureira e mentirosa. Apesar de não serem ímãs, a atração era inevitável.

A história é contada de uma maneira muito despretensiosa, simples e delicada. Mesmo havendo dramas subjacentes tudo é tratado com leveza e humor, e, pra mim, foi impossível não assistir à história com um sorriso contínuo. É tão bonito e otimista que, por mais que você não esteja na mesma sintonia, não há como resistir à ternura que inspira. É, portanto, daqueles filmes que te fazem sentir bem quando acabam, ao mesmo tempo em que te fazem avaliar uma porção de coisas da sua própria vida. Sim, porque ele também dá alguns recados significativos, independentemente da sua idade e sem cair na pieguice. O enfoque não está na maior proximidade que os personagens enfrentam do último suspiro ou chance, mas em como a vida pode melhorar a qualquer momento – bastando estar aberto a essas oportunidades.

Não vou contar mais pra não tirar as pequenas surpresas da história, não se preocupem. Apenas vou me ater a dizer que Elsa & Fred foi uma surpresa muito agradável, que tem o poder de melhorar o ânimo dos corações mais peludos. Vale a pena assistir e refletir a respeito, em qualquer etapa da vida que você esteja.

Ficha Técnica

Título: Elsa e Fred – Um amor de paixão (Elsa e Fred)
Diretor: Marcos Carnevale
Ano: 2005
Gênero: Comédia romântica
Duração: 105 minutos