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Posts Tagged ‘Nick Hornby’

Educação – aquela não encontramos nos livros

23/02/2012 Deixe um comentário

Cada um de nós viveu (ou vive, não sei a sua idade!) a adolescência de uma forma diferente, em contextos distintos, com muita ou pouca gente ao redor, com a opção de inúmeros estilos de vida e preferências musicais e assim por diante. Mas uma coisa que eu posso garantir (ok, quase) é que todos passaram por dois efeitos colaterais, independentemente da duração: tédio e insatisfação. Acertei?

Para a jornalista inglesa Lynn Barber foi assim. Ela compartilhou suas memórias no livro “Uma Outra Educação”, o qual originou o filme tema do post e que teve seu roteiro adaptado por nada mais, nada menos, do que Nick Hornby. Ambientado na Londres da década de 1960, conta a história de Jenny, 16 anos, muito inteligente e dedicada aos estudos e com uma trajetória já toda traçada pelo pai: ser estudante da Universidade de Oxford.

Apesar do futuro brilhante batendo à sua porta, Jenny queria mais da vida no presente. Carregava a típica insatisfação e tédio que sentimos quando sabemos que ainda há muito a ser descoberto e conhecido no mundo, mas não podemos fazê-lo por sermos jovens demais e termos “responsabilidades”. Insatisfação e tédio, esses, que foram devidamente esquecidos quando conheceu David (Peter Sarsgaard), um cara mais velho e experiente disposto a mostrar-lhe as coisas boas (e más) que a vida poderia oferecer.

Não é preciso contar mais da história (foram os 15 minutos iniciais, eu juro) pra imaginar onde ela vai parar, não é? Ela é de fato previsível e bem pouco inédita. Apesar disso, os demais elementos do filme compensam essa fraqueza: os diálogos são perspicazes, a atmosfera dos anos 60 é das mais charmosas que este mundo já viu e as atuações são excelentes. Prova disso são as três indicações ao Oscar que levou, nas categorias de melhor filme, melhor atriz (Carey Mulligan, a Jenny) e melhor roteiro adaptado – isto é, se ainda podemos dar algum crédito às indicações do Oscar dos últimos tempos, é em exemplos como este.

Educação é um filme delicado e divertido. Muitos o acusaram de moralista, mas acredito que, mais do que querer ensinar lições ou “certos” e “errados”, o filme quer contar uma história que aconteceu há 50 anos. Apenas isso. Houve muita polêmica e questionamento do seu mérito, e confesso que isso me dá certa preguiça: o importante mesmo é desfrutá-lo e rememorar (ou se identificar  com) o processo de autodescoberta e alargamento de horizontes que invariavelmente vem junto com a adolescência – acompanhados do tédio e da insatisfação. É uma fase importante e bonita (cof) da vida, independentemente do desfecho que escolhemos para ela.

Ficha técnica
Título: An Education (Educação)
Diretor: Lone Scherfig
Ano: 2009
Gênero: Drama
Duração: 100 minutos

Uma Longa Queda, livro de Nick Hornby

Como eu já contei aqui, meu primeiro contato com Nick Hornby foi estranho. Em Alta Fidelidade demorei para me acostumar ao Rob Fleming ansioso em dissecar a vida em “top cinco” a toda hora. Bom, quando entendi e me identifiquei com a mente dele, parti para outras obras publicadas. Li Um Grande Garoto e me apaixonei de novo, desta vez desde o início.

E aí parti para Uma Longa Queda, um livro que tem uma estrutura legal, mas uma narrativa cansativa. Me perdoem se talvez alguém já tenha lido e gostado do livro, mas eu esperava muito e não tive nem metade. A ideia era interessante, mas a execução falhou.

O livro se divide em narrativas de quatro pessoas (alternadas constantemente) que se encontram por acaso na véspera de ano-novo no Topper’s House, prédio conhecido como o local favorito dos suicidas, no norte de Londres. Por coincidência os quatro foram para lá com um motivo: tirar a própria vida, cada um com seus motivos, e fazê-lo de maneira que ninguém dê por falta. A mãe solteira Maureen tem um filho em estado vegetativo. O apresentador de televisão Martin havia sido preso por pedofilia e perdeu tudo o que tinha. Jess é uma aborrescente desbocada que tomou um fora do namorado. E JJ, ex-líder de uma banda de rock e atual entregador de pizzas, depressivo-sem-motivo. Os quatro iniciam uma conversa sobre seus motivos, mas acabam buscando alguma razão para viver ou, pelo menos, adiar a morte iminente.

Essa ideia me chamou a atenção, e quis ver o que Nick Hornby poderia proporcionar em termos de mentes suicidas. Infelizmente, não muito aqui. A história é cansativa, apresenta muitos pontos de vista em uma situação só, além de seguir sem sentido (mesmo que na ficção) por mais da metade do livro.

Uma Longa Queda perdeu o timing, faltou algo mais… sincero e realista nos personagens. Eu não esperava uma sessão de auto-ajuda, mas tampouco uma sequência de atos que fossem diminuindo a proposta do livro e que desafiassem a paciência do leitor. Se você quer conhecer Nick Hornby, fique com Alta Fidelidade e Um Grande Garoto, são as melhores opções.

Ficha Técnica

Título: Uma Longa Queda
Autor: Nick Hornby
Ano: 2005
Editora: Rocco
Gênero: Romance, Literatura Estrangeira
Número de páginas: 300

Um Grande Garoto, livro de Nick Hornby

Eu acho que nunca havia lido um livro enquanto andava pelas ruas. Mas isso foi antes de conhecer este livro. Eu simplesmente não queria me separar de nenhum parágrafo dele, enquanto me apaixonava por Will e Marcus. Meu sentimento com este livro foi imediato, diferente de Alta Fidelidade, como comentei há alguns dias.

Will é um homem livre e desimpedido que busca uma parceira constantemente. Nos seus últimos relacionamentos, descobriu como as mulheres que já são mães podem ser carinhosas e fogosas em um relacionamento, então decidiu ir a um lugar em que poderia encontrar e escolher a dedo várias delas: PSU – Pais Solteiros Unidos. Só tinha um problema: ele não tinha um filho para ser um pai solteiro. Mas isso não seria um empecilho tão grande, afinal de contas Will é dotado de uma imaginação muito fértil, e assim nasceu Ned – sem muita conversa fiada.

Ele então conhece Marcus, garoto de 12 anos e filho de pais separados, cuja mãe esquisita dispensa seu tempo em crises depressivas. O menino, reflexo esquisito de sua mãe, mas dotado de lógica, é alvo de provocações dos colegas no colégio. Então surge uma amizade conturbada, mas divertida entre Marcus e Will, e ambos vão aprendendo diversas lições e construindo uma base sólida no meio de tanta confusão.

Nick Hornby explora as relações que as pessoas estabelecem quando o “padrão familiar” é corrompido e conquista o leitor com uma escrita humorada, irônica e ansiosa em mostrar a sua visão de mundo.

Ficha Técnica

Título: Um Grande Garoto
Autor: Nick Hornby
Ano: 2000
Editora: Rocco
Gênero: Romance, Literatura Estrangeira
Número de páginas: 267

Alta Fidelidade, livro de Nick Hornby

Eis meu primeiro contato com Nick Hornby, ex-professor e atual morador da zona norte de Londres. Alta Fidelidade me exigiu mais envolvimento do que eu estava disposta a oferecer, porque demorei para me render às semelhanças nada nobres do personagem.

Rob Fleming é um recente solteirão, largado pela ex-namorada Laura (e por todas as outras que vieram antes dela, listadas de maneira muito singela no início do livro) e dono de uma loja de discos que não vai tão bem assim. Toda e qualquer situação em sua vida é motivo para fazer um top cinco – músicas, filmes, ex-namoradas. Sua paixão pelos discos, motivo de manter a loja funcionando, tem uma relação mais profunda do que parece: seus próprios discos são organizados por fases de sua vida, e gravar uma fita exige muito mais planejamento do que simplesmente escolher músicas.

Por algumas páginas, você acha que ele é apenas um maluco depressivo, que deveria ter um pouco de orgulho próprio e levantar do sofá, mas então ele revela todas as coisas não tão altruístas que ele já fez e seu bom senso lhe diz que ele mereceu tudo o que passou e a história poderia terminar ali, com um top cinco de finais infelizes.

E então você se apega ao livro, à música e aos pensamentos de Rob. É como se você estivesse do lado dele, escutando suas injúrias, envolvendo-se com seus pensamentos, a ponto de ter que piscar para entender se é você ou ele quem está falando. O lado mais obscuro (seu ou do personagem), parecia começar a ser compreendido totalmente. E como numa música, você sente raiva novamente, porque no lugar dele, você talvez fizesse diferente.

Essa foi a minha relação com Nick Hornby em Alta Fidelidade. Essa foi a ansiedade que senti por diversas páginas, até a peça terminar e eu desejar espiar por trás das cortinas, porque embora tenha um final, aquele personagem é seu lado mais obscuro – aquele que algumas pessoas não chegam a admitir – e você sabe que precisa compreendê-lo totalmente. Para quem viveu os anos 90 ouvindo música e vendo TV, Nick Hornby é heroi.

Ficha Técnica

Título: Alta Fidelidade
Autor: Nick Hornby
Ano: 1998
Editora: Rocco
Gênero: Romance, Literatura Estrangeira
Número de páginas: 260